quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

por-do-sol

achar alguém de quem ele gostasse de verdade e com quem ele se identificasse era coisa rara. acontecia uma vez ou outra apenas. sentado na grama olhando o sol se por ele sabia que tinha acontecido novamente. mas, novamente também, ele sabia que o final era o mesmo. sabia que contos de fadas só existiam nas histórias que lia quando criança. sabia que duas pessoas que se gostam só ficavam juntas em televisão. sabia que pra ele as coisas não davam certo. afetivamente, ao menos, não. nunca haviam dado e ele já se conformava com o fato de, mais uma vez, a história se repetir. não era isso que o chateava naquele final de tarde. era que outra vez ele havia acreditado. havia sonhado que diferenças não eram o bastante para deixá-los separados. havia acreditado que ele daria um jeito, como sempre disse pra si mesmo que daria. mas não deu. e era isso que o entristecia. não a história se repetir, mas ele ter acreditado. sabendo que ia dar errado, mas ele havia acreditado. talvez ele fosse um garoto que gostasse de acreditar. o sol se pôs mais devagar naquele dia. talvez tentasse impedir o garoto de mergulhar. talvez quisesse observá-lo. talvez sentia-se como o garoto. solitário na imensidão do universo. talvez tivesse inveja de que o garoto pudesse por um fim em sua angústia. e, observando-o sumir nas profundezas do lago no parque, pôs-se.



(por mim mesmo)

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