domingo, 31 de janeiro de 2010

sonhos e saudades.

Fechou a última mala com o cadeado. Suas roupas e pertences pessoais estavam naquelas bagagens. Juntamente com seus sonhos. Tinha, a partir daquele dia, uma vida nova pela frente. Cheia de possibilidades que ele queria aproveitar.
Na mala de mão ele colocou, junto ao celular e ca
rteira, seu álbum de fotos. As lembranças dos amigos que ele, infelizmente, não veria mais com tanta freqüência. A saudade já o invadia, antes mesmo de sair de casa. Levou as malas e acomodou-as no carro. Já era hora de partir. A cidade nova o esperava. Sozinho construiria sua vida dali pra frente. Estava ficando mais maduro e responsável.
A
ntes de ir embora corre
u de volta até sue quarto. Uma última olhada. Uma lágrima desceu por seu rosto até acabar-se em seus lábios. O gosto da saudade. A vontade de voltar sempre pro lugar que ele sempre chamará de casa e encontrar a família e os amigos. Muitas coisas passavam pela sua cabeça naquele momento. Apenas juntou todas elas e criou um sorriso no rosto. Mesmo sabendo que não obteria resposta – e se achando um tanto quanto louco – disse até logo ao quarto. Por um momento pensou ter ouvido algo em resposta, mas era fruto de sua fértil imaginação.
Deu as costas ao quarto e partiu encontrar seu destino.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

petrificação

encostado no canto do quarto, abraçado ao seu fiel amigo, o travesseiro, tentava parar de pensar. tentava entrar em estado vegetativo. queria acreditar que tudo estava bem. estava fazendo o que sempre fazia. deixando as emoções de lado. enrijecendo o exterior. ficando seco. tinha esperanças de que um dia seria racional o bastante para não querer ou necessitar de emoções. repetia como um mantra pra si mesmo: está tudo bem. no fundo, sabia que não estava. mas não queria escutar. fazia-se de surdo para a voz que falava dentro de seu coração. já amara demais. sofrera mais ainda. talvez não fosse a melhor solução. mas não sabia mais o que fazer para dor passar. seu peito parecia explodir.
agora, canalizava tudo que sentia no enrijecimento do seu exterior. seria impenetrável. impediria qualquer um de se aproximar. ninguém mais o magoaria. ninguém mais o faria sofrer. ninguém mais brincaria com ele. o mundo perdia, naquele momento, um dos garotos mais doces e carinhosos. o mesmo mundo que o criara, agora o modificava por completo. pegou o que lhe restava de amor dentro de si e cuspiu para fora.
ao levantar do canto onde estava sentado podia-se notar que o processo estava completo. o brilho dos seus olhos havia sumido. sua face, antes quente e cheia de possibilidades agora era fria. rígida. sem o amor, rejeitado, seu coração endurecera. havia virado pedra. e dali pra frente seria assim que sobreviveria. indiferente, insensível. como uma rocha.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Destino

Deitado na cama organizava na mente os fatos do dia. Tinha pra si mesmo que havia conhecido a pior pessoa do mundo. O pior tipo de pessoa que poderia existir. Alguém sem conteúdo. Com uma beleza que lhe agradava os olhos. Mas que não acrescentava nada para sua vida. E o pior: a pessoa valorizava ser daquele jeito: sem conteúdo. Julgava as pessoas pela aparência. Sentimentos, opiniões e pensamentos não importavam. Um rostinho bonito era o que agradava. O que ele não sabia era que beleza passa. Passa junto com o tempo. Simultaneamente amigo e traiçoeiro. E não fora diferente.
O garoto que acreditava que tocar o coração era mais importante do que tocar os olhos agora é um adulto feito. Vivendo junto de alguém que ele ama de verdade e que o ama também.
Aquele que cultuava a beleza afundou-se na depressão alguns anos mais tarde. Não encontrara alguém para lhe fazer feliz. A beleza se fora; e como não tinha nada a oferecer, cumpriu o destino que ele mesmo havia traçado. Seu corpo foi encontrado pendurado em uma corda numa das árvores do quintal da casa de seus pais. Morreu.
Velho. Sozinho.
Acabado.



Então, se ligue! Busque felicidade. Pra existir história tem que existir verdade... ♪

domingo, 10 de janeiro de 2010

Halo

Havia passado uma das melhores noites da sua vida. O boliche, os amigos, as risadas. Sentia-se bem. Sentia-se completo. Dirigia pelas casas dos colegas. Assegurava-se de deixar cada um em segurança. Sabia que era o certo. Sabia que sua parte ele fazia. Já passava das três horas quando despediu-se da última. Partia agora para sua casa. Cansado da noite, mas feliz. Dirigira por alguns quarteirões desde o último adeus. O celular caiu. O poste. A batida. O sangue escorrendo. A música ainda tocava no rádio do carro...

Baby, I can see your halo... ♪

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

por-do-sol

achar alguém de quem ele gostasse de verdade e com quem ele se identificasse era coisa rara. acontecia uma vez ou outra apenas. sentado na grama olhando o sol se por ele sabia que tinha acontecido novamente. mas, novamente também, ele sabia que o final era o mesmo. sabia que contos de fadas só existiam nas histórias que lia quando criança. sabia que duas pessoas que se gostam só ficavam juntas em televisão. sabia que pra ele as coisas não davam certo. afetivamente, ao menos, não. nunca haviam dado e ele já se conformava com o fato de, mais uma vez, a história se repetir. não era isso que o chateava naquele final de tarde. era que outra vez ele havia acreditado. havia sonhado que diferenças não eram o bastante para deixá-los separados. havia acreditado que ele daria um jeito, como sempre disse pra si mesmo que daria. mas não deu. e era isso que o entristecia. não a história se repetir, mas ele ter acreditado. sabendo que ia dar errado, mas ele havia acreditado. talvez ele fosse um garoto que gostasse de acreditar. o sol se pôs mais devagar naquele dia. talvez tentasse impedir o garoto de mergulhar. talvez quisesse observá-lo. talvez sentia-se como o garoto. solitário na imensidão do universo. talvez tivesse inveja de que o garoto pudesse por um fim em sua angústia. e, observando-o sumir nas profundezas do lago no parque, pôs-se.



(por mim mesmo)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

e se?

e se você tivesse acordado diferente nesse ano? se você, milagrosamente, tivesse adquirido a capacidade de mudar o que quisesse. qualquer coisa mesmo. mudar seu corpo: ser mais alto, mais magro, ter um nariz menor, mais bunda, menos coxa; mudar sua casa: pô-la em outro bairro, em outra cidade, construir uma suíte no seu quarto, mudar a cor, os móveis, ter uma lareira; mudar suas convicções; mudar seus amigos; mudar suas memórias: apagar o que te fez mal, reviver o que te faz bem, esquecer pessoas, momentos, histórias; mudar seu carro: comprar o conversível preto que você sempre quis; mudar seu sentimentos: ser mais compreensivo, menos autoritário, amar mais, sofrer menos, ter menos ódio, não guardar rancor... é, e se? "se" não muda nada. ir a luta muda tudo.
talvez você não amanheça no dia seguinte com o carro dos senhos na garagem, mas talvez você acorde com o pé direito, acreditando que pode fazer as coisas darem certo. talvez você repense o que falar, o que sentir e como agir. você não vai apagar as coisas que te machucaram da mente, mas vai deixá-las de lado, viver apesar delas e não em favor delas. vai aprender a dar às coisas a real dimensão que elas tem e não projetar grandes catástrofes ao invés de problemas simples. é claro que você não acordou hoje com o poder de mudar tudo conforme queira. mas o potencial dentro de si, de mudar o que estiver ao seu alcance, de mudar de dentro pra fora está aí. é só saber usá-lo.
e se todos nós usássemos esse potencial? como será que o mundo estaria hoje?

feliz ano novo!